Casais inteligentes enriquecem juntos.(auto-ajuda para cidadãos da metrópole)

Eu nasci e cresci em São Paulo. Eu quase nunca saio da região metropolitana desta cidade, para ser mais exata. E embora eu me identifique muito com a cidade, por amor ou por falta de referências mesmo, o nosso relacionamento está meio desgastado. Se fôssemos um casal, hoje ela dormiria no sofá.

Algum analista fajuto apontaria a rotina como a culpada. Mas também, todo dia essa sujeira, todo dia essa falta de espaço, todo dia esses esbarrões com anônimos, não tem amor que resista. Parece até que ela não presta atenção em mim. E então eu imagino um mundo melhor, fora do meu alcance, um mundo por vir, cheio de boas intenções e formas e cores e sons harmônicos. Um mundo que pergunta se meu dia foi bom.

Um dia, um dia, eu estarei com um mundo melhor.

Mas esse mundo melhor é esse mundo mesmo, que eu vejo de dentro da minha amada São Paulo. Esse que eu acordo e tenho que olhar com cara de sono ainda bem cedo. Os mais esperançosos que me desculpem, eu mesma não me acostumei com a idéia.

É neste mundo que vou ter que dar um jeito. Para dividir espaço ao invés de competir o tempo inteiro como se não houvesse objetivos em comum. Para sermos parte dos lugares que ocupamos, e não somente passageiros. Não acho que seja necessário imaginar esse mundo melhor como estranho e inalcançável, porque o meu pedaço de mundo é esse no qual eu piso, do qual sou íntima.

E pedaço por pedaço tratado com mais carinho (e a palavra é exatamente essa – carinho, sem brincadeira) forma um todo, senão perfeito, democraticamente melhorado.

Hoje mesmo, vou ser menos egoísta no relacionamento e perguntar se o dia da minha cidade foi bom.

Priscila Rezende, Setor Acadêmico IBModa (a imagem é Oswaldo Goeldi)